“O homem medieval não somos nós, em mais primitivo.” – Jacques Heers
Havia algo em que o homem medieval acreditava e até temia: feiticeiros e alquimistas.
Certo professor português de História Medieval descreveu os feiticeiros e os alquimistas de uma forma bastante interessante.
Os feiticeiros eram interessados em resultados e em espectáculo. Não lhes interessava muito perceber como tinham surgido os feitiços que executavam. Sabiam combinar com mestria palavras e rituais criando a ilusão de dominarem os elementos que os rodeavam e causando comoção em quem os via actuar.
Já os alquimistas eram estudiosos. Misturavam o estudo dos astros com conhecimentos profundos de química, matemática, metalurgia, religião e outros temas. Investigavam, analisavam, explodiam, implodiam, experimentavam, tudo na busca da verdade e da sabedoria.
Ambos treinavam os seus aprendizes, mas mantendo alguns segredos do ofício encerrados até se aperceberem que estariam perto do fim da vida. Aí, terminavam o treino dos aprendizes e transmitiam o derradeiro feitiço, a derradeira mistura fantástica.
O que isto tem a ver com o Benfica? Aparentemente nada. Mas até tem.
Neste momento, a divisão entre adeptos no Benfica é enorme.
Não quanto ao apoio ao clube, mas sim quanto ao caminho seguido.
De um lado, os feiticeiros para quem apenas interessa é se o clube ganha e se vai buscar craques por muitos milhões, ostentando assim que tudo está bem no reino da dívida bancária.
Por outro lado, os alquimistas que querem ir a fundo na análise da situação actual financeira do clube. E quando pensam estar a descobrir a fórmula mágica, eis que o acesso à real situação financeira falha.
É a máscara das contas um problema apenas do Benfica? A crise da dívida soberana mostra que não. Governos e banca durante anos mascararam relatórios de contas, e agora não é possível fugir mais à realidade. Com os custos que estão à vista.
O financiamento bancário está praticamente fechado. Em especial a pessoas e empresas com endividamento ou situação de risco elevados. E os clubes de futebol não escapam. Estão na linha da frente dos cortes. Daí haver 2 belgas a jogar em Portugal que ainda não foram pagos. Porque a fonte para os patrões desses senhores fechou.
Todos temos algo de feiticeiro e alquimista.
Quando o Cardozo fora da área chuta de repente dum sítio que nem pensamos ser possível marcar golo, o alquimista que vive em nós grita: “ Estou farto deste Cardozo!!! Até eu fazia melhor!!!”
Mas assim que a mesma bola entra na baliza, o feiticeiro benfiquista salta na sua cadeira, grita e dança o ritual do golo faltando apenas lançar uns pós e aparecer no relvado para festejar o golo!
Os nossos presidentes têm que ter um pouco de feiticeiro e de alquimista. Especialmente agora, numa situação financeira global muito difícil.
Cabe-nos a nós, sócios e adeptos, que uns dias somos feiticeiros outros alquimistas estar atentos.
Para que a comoção ou ilusão que um presidente-feiticeiro ou candidato a presidente-feiticeiro possa causar em nós com os seus rituais e palavras não nos tolde o pensamento e nos faça escolher mal quem apoiaremos.
Mas que também nenhum alquimista-presidente ou candidato a alquimista-presidente possa vir dizer que descobriu o segredo de transformar um metal inferior em ouro, sem nos mostrar claramente a fórmula que usou.
Merecemos a verdade. Só a verdade. Queremos possuir a sabedoria de conhecer a situação real do Universo do Sport Lisboa e Benfica.
Para que possuindo essa mesma sabedoria, possamos ser alquimistas e feiticeiros na defesa do clube.
Sem ilusões.
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