A escassez de títulos futebolísticos tem mudado aos poucos a postura de grande parte dos adeptos do Benfica.
Exigentes desde sempre, amantes do bom futebol, apreciadores de um bom espectáculo e festivos por natureza, os benfiquistas têm nos últimos anos feito um caminho perigoso na direcção da intolerância.
Ando cá já há alguns anos, e por isso relembro o Benfica combativo, exemplo de proceder e processos, referência para qualquer clube em Portugal e até no estrangeiro. Relembro declarações de presidentes de outros clubes (coisa impensável hoje!) a louvarem o Benfica por ser um cumpridor exemplar de todos os seus compromissos.
Essa época terminou perto do final da direcção de João Santos. Jorge de Brito, o grande financiador do Benfica no final dos anos 80 e princípio dos anos 90, começou a ter dificuldades em dispôr de fundos devido às pressões familiares. O Benfica entra em grandes dificuldades financeiras e o resto é conhecido desde então.
Travessia no deserto entre 1994 e 2005, título em 2010 e uma grande frustração pela forma como os dirigentes do clube deram tiros nos pés durante tantos anos, e pela forma como o clube da Palermo portuguesa ía conseguindo os seus títulos.
Não tem sido fácil para o benfiquismo sobreviver numa tempestade de areia para os olhos que dura à quase 30 anos. Mas contra o desejo de alguns, ele sobrevive. Mais que isso, permanece forte, ancorado numa crença na capacidade do clube como um colectivo, fortalecido por alguma recuperação da pujança do clube, embora não a esperada por todos nós.
Mas este caminho de vida para o benfiquismo tem alguns espinhos que têm crescido nos últimos anos.
O benfiquismo está cercado por mau jornalismo, má justiça, más decisões dos seus dirigentes, e por uma classe dirigente no desporto em Portugal que se alimenta deste benfiquismo para se sustentar mas ao mesmo tempo tenta sufocá-lo de todas as maneiras que pode.
É difícil que tudo isto não tolde a visão a alguns benfiquistas, em grande parte desesperados pela manutenção do status quo actual.
Referência da democracia em Portugal, o Benfica sempre foi um clube multicultural, agregador e cultivador da liberdade de expressão. As antigas assembleias gerais do clube foram exemplo disso. Opiniões inflamadas, discussão apaixonada de projectos, luta pela verdade dentro e fora do clube.
O título deste texto leva-nos ao consulado actual de LFV.
Tem sido o presidente mais centralizador e castrador de opiniões contrárias dos últimos anos no Benfica.
Se calhar, no princípio do seu consulado não podia ter agido de outra forma. Todos recordamos a feira de vaidades (termo muito utilizado no passado) que foi o Benfica nos anos 90. E os chamados notáveis criados pela imprensa, em que nada beneficiaram o Benfica, mas apenas a si próprios.
Mas a tentativa de acabar com esses falsos notáveis, castrou a livre opinião no universo benfiquista. Quase nenhum benfiquista conhecido do público arrisca abrir a boca na imprensa para questionar as opções de Vieira. Nem internamente isso acontece.
E falta de liberdade de expressão não é apanágio do Benfica. Passamos do 80 para o 8.
Infelizmente, isso tem consequências graves para a comunicação do clube com as pessoas mais importantes: os sócios e adeptos. São esses que são o clube, que o financiam, que o levam ao colo, que o sustentam com o seu meio de vida e com a sua força.
O clube fecha-se sobre o seu presidente, criando a imagem de que clube e presidente são uma única entidade. Cultiva-se o secretismo sobres decisões e opções que deviam ser públicas e claras.
O Sport Lisboa e Benfica não é de ninguém nem se confunde com ninguém. É de todos os benfiquistas. De mais ninguém.
Tem a liderança de LFV sido um sucesso? Longe disso. Tem os seus méritos? Sem dúvida! Mas o Benfica não é 'país de partido único' como outros clubes em Portugal.
Cair nesta armadilha de não deixar espaço aos outros para darem ideias, participarem na gestão do clube, poderem fazer críticas e apreciações construtivas e de centrar tudo numa pessoa, é regar a erva daninha que é o anti-benfiquismo. O Benfica é tudo menos isso.
Na blogoesfera benfiquista esta praga também tem tido as suas consequências. A diferença de opinião gera insultos, guerras sem qualquer utilidade, quando se devia estar a discutir o presente e o futuro do nosso clube de forma construtiva.
O anti-benfiquismo floresce com tudo isto. É uma armadilha para ursos (como a da foto) e infelizmente todos nós temos sido 'ursos' em muitas ocasiões.
É altura de deixarmos de ser ursos, e fazermos valer a nossa força. O Benfica somos nós. Juntos. Os NN deram o mote no último jogo na Luz. Todos a gritar para o mesmo lado e o eco das vozes chega ao outro lado do mundo!
O Benfica é transparência, é lisura de processos, é informação fluída e dinâmica para o seu grande alicerce: os sócios e adeptos.
Só assim se sufocará o anti-benfiquismo.
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