Acordámos hoje com duas notícias, uma no Expresso (da qual o SLBenfica demarca-se sem contudo a desmentir) e n'A Bola a propósito da venda dos direitos televisivos a Paes do Amaral por 45M€/ano. Outra notícia, desta feita no Correio da Manhã dá conta da venda do naming do Estádio da Luz a troco de uma verba na ordem dos 5M€/ano.
Naming do Estádio
Para os mais jovens pode parecer algo irrelevante, mas acreditem que é um tema sensível para os mais velhos habituados desde sempre ao Estádio da Luz. Recentemente o ManchesterCity vendeu o naming do estádio à entidade que já tinha o naming das camisolas, num contrato global a 10 anos no valor record de 150M€, ou seja, 15M€/ano. Já antes o Arsenal tinha feito um acordo semelhante (estádio + camisolas) por 100M€.
Domingos Soares Oliveira sempre teve esta ideia de gestão, muito antes de o António Salvador vender o naming da "pedreira" à Axa, ou antes de SportingCP e FCPorto nos copiarem o naming das bancadas e pavilhões. Em declarações recentes, avaliou a receita justa no limite inferior a partir do valor recebido pelo patrocínio das camisolas (aproximadamente 5M€).
Ora, feitas as contas, a confirmar-se a notícia do Correio da Manhã (não podemos considerar o jornal credível só quando nos apetece), estamos a falar de um valor na ordem dos 10M€/ano (camisolas + estádio), ou seja, 2/3 do que conseguiu o Manchester City e o mesmo... que conseguiu o Arsenal (e num contrato a 15 anos, mas com a atenuante de ter sido obtido em 2006).
A confirmarem-se estes números não há dúvidas que o SLBenfica volta a surpreender na gestão empresarial do Grupo Benfica, conseguindo resultados muito próximos de clubes com outro posicionamento de mercado e de ligas muito mais mediáticas que o SLBenfica.
Fora deste "campeonato" apenas Manchester United, Liverpool, Real Madrid ou Bayern com contratos só para as camisolas na ordem dos 20 a 25M€/ano, em contratos na ordem dos 4 anos.
Direitos Televisivos
Um assunto bem mais complexo. Inglaterra, França, Alemanha e agora Itália utilizam já o método de venda/negociação colectiva dos direitos televisivos. Em traços gerais, a distribuição dos valores é feita de forma teoricamente justa, ou seja, olhemos ao exemplo da Liga Francesa (assim evitamos exemplos com clubes de top mundial):
- A Liga disponibiliza um montante global de 517,8M€ em 2010/11
- 48,9% desse valor é distribuído em partes iguais por todos os 20 clubes da Ligue1 (12,6M€)
- 24,4% desse valor é distribuído em função da classificação nessa temporada (o primeiro recebe a maior fatia e os que descem não recebem nada)
- 5% desse valor é distribuído em função da performance desportiva (classificação) nas últimas 5 temporadas
- 21,7% desse valor é distribuído de acordo com as audiências nas últimas 5 temporadas
Na prática representa que o 1º classificado pode não ser o que mais ganha, porque as audiêncais pesam quase tanto como a classificação e além disso há também uma pequena fatia para a regularidade desportiva que, por consequência, dá mais visibilidade e audiências - logo mais valor.
Nas outras ligas há diferentes ponderações, mas andam todos à volta do mesmo conceito de performance e audiências.
Em Espanha a divisão é mais "leonina" com Real Madrid e Barcelona a receberem a maior faria dos mais de 600M€ (22%), correspondentes a quase 150M€ enquanto os outros clubes recebem bastante menos.
Curiosamente, as ligas Francesa, Inglesa, Alemã e Italiana que partilham métodos analíticos de distribuição de distribuição, têm cada vez mais equipas a crescerem e a aparecerem nos topos das classificações, tornando as suas ligas mais apelativas a melhores jogadores e patrocinadores.
Num exercício semelhante, a Liga Nacional vale cerca de 200M€ que é quanto a Olivedesportos receberá pelos direitos que compra aos clubes por cerca de 50M€. Curiosamente, quem mais lucra neste negócio é precisamente o intermediário ao contrário dos clubes.
Olhando a distribuições semelhantes às que se aplicam, por exemplo, em França teríamos os 200M€ a serem divididos em cerca de 49% pelos 18 clubes, ou seja, cada clube receberia 5,4M€/ano. Curiosamente um valor não muito longe dos 7,5M€/ano que recebe o clube com maior potencial de retorno em Portugal - o SLBenfica.
Se depois aplicarmos 25% em função da classificação da temporada anterior teremos 50M€ para distribuir por 14 equipas (se o primeiro receber mais de 10% estamos a falar em 5,5M€ para o primeiro, decrescendo até cerca de 500.000€ para o 14º). E com isto o primeiro da temporada passada já vai em 10,9M€ e os clubes de fundo da tabela em praticamente 6M€/ano.
Podemos continuar com as restantes ponderações da Liga Francesa para distribuir 20% pelas audiências dos últimos 5 anos, onde o SLBenfica recebia mais cerca de 5 ou 6M€ a juntar aos anteriores 10M€ que já viriam das demais ponderações e aos quais ainda juntaria mais 1 ou 2M€ dos últimos 6% a distribuir pela performance dos últimos 5 anos.
Na prática estaríamos a falar de um valor na ordem dos 17/18M€ por ano. Dirão alguns de vós que isso representa menos de metade do que as notícias dizem que o SLBenfica vai receber pelos direitos televisivos. E eu concordo em absoluto com essa análise que, numa primeira abordagem, seria muito penalizador para o SLBenfica.
Contudo...
... os clubes mais pequenos receberiam bastante mais, passariam a ser mais competitivos e menos sujeitos às jogadas corruptas sobre as quais o FCPorto tem sustentado toda a sua existência e sobre as quais tem assente a submissão que o clube do Norte tem imposto a esses clubes com dificuldades que não vêem alternativas à sua subsistência senão alinharem nesses jogos de interesse.
Teremos como contabilizar os milhões que perdemos devido a essas jogadas de bastidores que envolvem pagamentos, aquisições de jogadores, empréstimos de jogadores de forma obscura, aliciamento de presidentes, treinadores, etc? Quantos milhões vale acabar com esta situação?
Quantos milhões valerá ao SLBenfica que todos os clubes mais pequenos tenham interesse em obter vitórias, deixar de vir à Luz jogar apenas para prejudicar o SLBenfica, nem que isso implique cartões vermelhos ou ficarem de rastos nos jogos seguintes, cedendo pontos a rivais directos do SLBenfica?
A competitividade da Liga portuguesa iria forçosamente que subir, com isso o aumento de poder de desenvolvimento dos clubes e a aposta nas condições para formação e também na dotação dos respectivos planteis com jogadores com mais qualidade. Também mais recursos financeiros para melhorar as infra-estruturas e com isto começar a tornar a Liga portuguesa mais apelativa não apenas para "jovens em trânsito" ou jogadores em fim de carreira... e apenas nos três grandes.
Com tudo isto, a Liga de Clubes possivelmente em cinco anos passaria os 200M€ de receita para perto do dobro (ou mesmo mais) desse valor e com isso, os clubes passariam também a ganhar o dobro ou mais que isso em direitos televisivos e aí está estaríamos a falar de perto de 40M€/ano. Torna-se claro que o aumento da competitividade da Liga passaria a interessar a todos e os clubes e dirigentes mais dados à corrupção passariam a estar mais isolados fora do seu habitat, restando-lhes os árbitros...
Obviamente que esta não é uma análise linear. Claro que é perfeitamente viável olhar com indiferença para tudo o que gravita em redor do SLBenfica e dizer que se alguém der 30 ou 40M€ pelos nossos direitos televisivos nos tornamos (ainda mais) incomensuravelmente maiores que a Liga em que jogamos.
Isso é tudo verdade! Como também é verdade que só conseguiremos desenvolver e manter projectos desportivos duradouros e com profissionais de qualidade, quando tivermos uma Liga Portuguesa muito mais competitiva, com mais visibilidade e capacidade de atrair talentos de forma mais sustentada. O SLBenfica não existe sozinho em Portugal... e é exactamente o contexto onde nos inserimos que tem "minado" o futuro do Maior de Portugal.
Quanto às notícias recentes, pelo "status quo" instalado no futebol português, continuo céptico não só que o Paes do Amaral invista 40M€/ano em 15 jogos do SLBenfica, porque me custa perceber que isoladamente se consiga rentabilizar 2,67M€/jogo no actual contexto televisivo em Portugal; mas também mantenho algum cepticismo perante a "dormência" de Joaquim Oliveira neste processo, sabendo todos nós que Luis Filipe Vieira mantém uma relação de respeito com o magnata dos media, ao mesmo tempo que tem um contrato "armadilhado" até 2016.
Posto isto, obviamente que ficarei muitíssimo feliz por ver o meu cepticismo cair por terra perante a confirmação de um futuro acordo do SLBenfica com uma entidade que assegure os 40M€/ano pelos direitos televisivos dos 15 jogos do campeonato do SLBenfica.
Contudo, olhando numa perspectiva mais de longo prazo e resolução de problemas estruturais do futebol português e que afectarão o SLBenfica de forma inquestionável, talvez gostasse que houvesse vontade política para seguir o caminho das ligas francesa, inglesa, alemã e mais recentemente a italiana..
No entanto, se há cepticismo da minha parte em relação ao abandono de Joaquim Oliveira e a um contrato da dimensão de 40M€/ano por 15 jogos... mais ainda céptico fico sobre a vontade política de avançar para uma solução de negociação conjunta. É pena...
Seja como for, mesmo que isto acabe tudo no Joaquim Oliveira outra vez, o Presidente do SLBenfica está a fazer o que se exige: Pressionar e criar necessidade de reacção a Oliveira.
Oxalá eu esteja enganado e o Presidente do SLBenfica demonstre, como já fez noutras circunstâncias, que eu estou errado a este respeito. Esta devia ser a função/aposta do Presidente e deixar o futebol para quem tenha maior sensibilidade de gestão desportiva.
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