A escolha não é mais entre o certo e o errado. 'E entre o que funciona e o que não funciona.

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Thursday, June 9, 2011

A escolha não é mais entre o certo e o errado. 'E entre o que funciona e o que não funciona.

Fábio Coentrão é jovem e tem o coração ao pé da boca. Quem o ouve a falar nos Flash Interviews a seguir aos jogos, a apoiar-se alternadamente num pé e depois no outro, quase aos saltinhos no pequeno palanque com o repórter a ter que ir com o microfone atrás dele para que não fuja, percebe que Coentrão, para além de impulsivo é nervoso, e que aquele coracao bate a 200 'a hora.

Mas compreendo Fábio Coentrão, tal como compreendi há umas boas semanas atrás (ao contrário de outros que davam saltos contentamento) que as suas declarações de amor eterno ao clube eram fogo de vista. Contracto vitalício com o Benfica?! Do provavelmente melhor defesa esquerdo do mundo da actualidade? Um jogador com o seu talento escolhia jogar contra Portimonenses e Navais e, quiçá, lutar por apuramentos para a Champions league, quando podia estar em Madrid, no centro do mundo, a lutar pelo estatuto que o Real Madrid reclama para si próprio, de melhor clube do planeta?

Ah sim, já sei… o Nuno Gomes e o Moreira é que são maçãs boas. Esses é que amam o Benfica, esses é que assinariam para toda a vida... Se calhar porque são dois jogadores medianos e o Benfica foi o melhor que lhes aconteceu na vida. Fossem estrelas na Luz e tivessem o Real Madrid atrás deles, diriam porventura a mesma coisa? Nesse aspecto, o meu discurso tem sido sempre o mesmo. Há vários meses atrás, escrevi aqui um post que se intitulava: "Se Eusébio fosse 40 anos mais novo, tinha jogado na Luz 6 meses e hoje tinha uma estátua em Madrid." .

Os factos são até muito fáceis de compreender e a estratégia é antiga: Coentrão quer sair, o Benfica quer 30 milhões, o Real Madrid oferece 20 ou 25, o empresário quer ganhar o dele, e para que a transferência aconteça há que fazer baixar os números. Coentrão tem de colocar pressão, tem de abrir a boca, tem de criar problemas. O próprio Manuel Vilarinho admitiu recentemente numa entrevista, que há uns bons anos atrás, quando prometeu aos sócios resgatar Jardel ao Galatasaray, acordou com Jardel que ele abrisse a boca, criasse problemas na Turquia e no seu clube, para facilitar a transferência. Não somos nenhuns santos nessa matéria.

Por isso, a estratégia em si não tem nada de novo. Todos os clubes o fazem. Nós, claro, quando nos toca a nós, e legitimamente, sentimo-nos desrespeitados pela estratégia dos grandes colossos europeus, porque ingenuamente achamo-nos tão grandes como eles. Mas a verdade é que para clubes como o Real Madrid, vir “pescar” um jogador ao Benfica é quase o mesmo que o Benfica ir “pescar” um jogador ao Setúbal ou ao Guimarães. E se o Benfica quiser MESMO um jogador do Setúbal, alguma vez o Setúbal terá condições para o segurar ou para lhe exigir que continue a jogar nos "pinhais" da Liga Portuguesa, a ver a Europa por um canudo, e esperar dele o mesmo brio e devoção? Mesmo que lhe aumentem o ordenado?

É tempo de aceitarmos que os tempos são outros. Este não é mais o tempo do amor à camisola. Este é o tempo do mercado global e das equipas de futebol inundadas de estrangeiros. E um jogador que vem do Brasil ou da Argentina para a Luz, tanto vem para Lisboa como iria para Leeds, Bordéus ou Saragoça. Eles vão para quem paga, e chegados aos clubes que os recebem o propósito mantém-se: Enriquecer e subirem o mais longe possível nas suas carreiras. Mesmo que isso signifique trocar a Luz pelo Dragão!

Alguns dirão: "Pois, dai a necessidade de apostarmos em Portugueses que saibam o que é o Benfica". Só que a história mostra que nessa matéria os padrões de comportamento são semelhantes. Edgar, Manuel Fernandes, Paulo Sousa, Miguel, Pacheco, Hugo Leal, Tiago, agora Coentrão, todos portugueses, e todos nos deram um pontapé no cú à primeira oportunidade...

Aliás, quando alguns sugerem em imitar o Barcelona, em ter equipas com 9 jogadores portugueses no onze faz-me rir. Faz-me rir porque para o Benfica ter 9 portugueses no 11, só se forem 9 coxos e o Benfica nunca ganhar nada. Porque se for um Benfica ganhador e os 9 portugueses forem craques, tenham eles 17, 21 ou 25 anos, depois de uma boa época na Luz estão os colossos europeus a bater à porta e lá se vão os 9 portugueses num ápice. No Barcelona só funciona porque quem é do Barcelona quer ficar no Barcelona a vida inteira.

Dito isto, não me melindra nada a vontade de Coentrão em querer dar um passo em frente na sua carreira. Chegar ao Real Madrid é chegar ao topo. Mas melindra-me o seu comportamento recente, o cuspir no prato em que comeu. Melindra-me porque sou uns aninhos mais velho do que ele e os valores da minha geração eram outros. Hoje vivemos numa era em que tudo é reciclável, em que tudo é permitido e tudo é impune. Nas prisões há TVs, Play Stations, mesas de snooker, comida quente, roupa lavada e agora até querem criar as salas de sexo. E os guardas prisionais não podem tocar nos coitados dos assassinos e violadores, façam lá o que eles fizerem. Nas escolas portuguesas, pode haver facada e tiroteio, venda de droga e apalpões às miúdas, mas os coitados dos professores não podem já sequer dar uma reguada correctiva nas angélicas e inocentes crianças, ou meter-se-ão numa carga de trabalhos. Nos tribunais, é a merda que se vê. E este é o país que temos.

No meio disto tudo, não posso deixar de olhar aqui para o lado. No Porto também há jogadores a querer sair, mas o tipo de declarações públicas é completamente diferente. De alguma maneira os jogadores do Porto sabem ao que vêm, conhecem as regras do jogo, e quem pisa o risco sabe bem o que lhe espera. Muito longe de mim defender a violência mas, também não sou nem nunca serei um acérrimo defensor da paz. Que se dane a paz se defendê-la significa resignarmo-nos às injustiças e ao status quo instalado.

O que sou cada vez mais é um anarquista. O Coentrão que diga toda a merda que lhe apetecer. Está num país livre, onde pelos vistos, tudo se pode dizer e fazer, tudo em nome da liberdade de espírito. Mas se ele é livre de dizer o que pensa, eu também devo ser livre para abordá-lo na rua e lhe dizer o que penso, ou até mesmo dar-lhe um "aperto". Nos meus tempos de miúdo também levei "apertos" de pais e professores. Na altura não gostei mas, alguns abriram-me os olhos, ensinaram-me a respeitar os outros e a perceber que o mundo não era apenas EU, e que o lema não era o “Venha a nós o vosso reino”.

Alguém tem de fazer ver a certos "meninos ricos" que se acham donos do mundo, que quando põe na lama o nome do Benfica, põe também o dos colegas, o meu e o de todos os que sofrem por aquelas cores. Não sei se é assim que as coisas se passam acima do Douro. Alguns dizem que sim e eu acredito. E sabem que mais? Pois que seja, porque pelos vistos funciona. Se calhar foi acima do Douro que descobriram o Santo Graal. Enquanto nós aqui em baixo nos preocupávamos com a ética, a moralidade e as boas maneiras, eles já tinham percebido que a escolha que se tem de fazer nos dias de hoje não é mais entre o certo e o errado. A escolha é entre o que funciona e o que não funciona.

Para o Diabo com a ética, a moralidade e as boas maneiras. O mundo de hoje pertence aos "espertos".

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