Seria fácil ficar calado nesta altura, deixar a mágoa passar, provocada por um final de época verdadeiramente aterrador, arrumar mais um ano de desilusões no baú do esquecimento, renovar ambições e expectativas, celebrar uma qualquer grande aquisição, voltar a gritar bem alto: Para o ano é que é!
Mas como penso que quem escreve num blogue com tanta visibilidade como este, não o deve fazer apenas com casmurrice e orgulho; e porque também entendo que quem cultiva o aplauso nas horas boas também tem de estar preparado para as críticas nas horas más, eu aqui estou para reconhecer, porque esta é uma hora de balanços e o nosso é demasiado triste, que erros houveram muitos, e que muito do que aqui foi escrito por outros “escribas” que comigo partilham este espaço e com quem não poucas vezes discordei, estava certo. Se nas vitórias há heróis, nas derrotas há vilões, e a culpa não pode morrer solteira.
Não significa isto que tenha passado para o “outro” lado, que tenha passado a fazer parte dos que defendem revoluções, calhauzada e golpes de estado, que tenha passado para o lado daqueles que sob um confortável anonimato foram ao longo do tempo pondo em causa, não só a gestão desportiva do Presidente mas também a sua dignidade. Não mudei de opinião na avaliação extremamente positiva que faço de sete anos de presidência. Não deixarei de defender LFV quando achar que defender LFV é também defender o Benfica.
Luís Felipe Vieira continuará a ser o meu presidente até às próximas eleições e, sinceramente, espero que outras opções apareçam, porque às vezes arrepia-me perceber que as críticas a esta direcção têm sido tantas e, no entanto, eu não vislumbro uma alternativa que me entusiasme, pelo menos nas figuras que se conhecem. Assusta-me este vazio.
Mas tenho de dizer que esta época que agora termina me desiludiu por completo. Desiludiu, porque ao fim de longos anos, este era o ano em que se podia dizer finalmente que Benfica e Porto partiam para uma época com as mesmas armas, com as mesmas condições para atingir o sucesso. Estaríamos até um bocadinho à frente, tínhamos jogadores, uma equipa feita, o mesmo treinador e o estímulo da vitória do ano passado. Dependia de nós fazer as coisas acontecer. E perdemos por capote. Esta época é uma derrota gigantesca e em todas as frentes, é uma derrota que nos embaraça e humilha, é uma derrota que não deixa margem para dúvidas de quem é realmente muitíssimo melhor. Esta é uma derrota de quem se fartou de cometer erros. Pinto da Costa ganhou Sr. Presidente. Saiba humildemente reconhecer isso.
Não quero entrar muito na análise à entrevista de LFV na última segunda-feira. Não quero, porque essa análise foi feita exemplarmente pelo GB e pelo Vermelhusco e, tenho de dizer, concordei com quase tudo o que escreveram.
Eu gostava, realmente, que o presidente exigisse mais dos recursos humanos que tem. Eu gostava que ele exigisse e cobrasse dos treinadores e jogadores. Que lhes exigisse muito, muitíssimo. Mas antes de exigir, também gostava que lhes tivesse dado as condições certas para ganhar. Este ano não deu.
Gostava que o presidente percebesse que os problemas do clube não se resumem às festas prolongadas e fanfarronice dos treinadores! Porque garanto-lhe que, quando um dia Jorge Jesus chegar ao banco do Porto (porque chegará lá, não duvide), o discurso fanfarrão desaparecerá por milagre e as vitórias serão umas atrás das outras. Serão com Jorge Jesus como seriam com Quique ou com Camacho, como foram também com Fernando Santos, a quem, segundo sei, nunca ninguém lhe vendeu nenhum Simão Sabrosa a doze horas do fecho das inscrições.
Gostava que o meu presidente não dissesse aos Benfiquistas, ao fim de dez anos de clube, que perdeu porque passaram muito tempo a festejar. Quando se admite um erro destes, ao fim de dez anos (!!), que crédito quer que lhe continuemos a dar?
Gostava também que o vice-presidente do meu clube não se prestasse ao ridículo papel que tem num programa televisivo. Gostava de não o ouvir dizer, como ouvi a seguir ao empate em Olhão: "Enfim, este era um jogo a feijões que já não interessava para nada". Não interessava para nada?! É este o discurso de uma figura directiva, que promove a desresponsabilização e o facilitismo? É que se calhar, até os jogadores já andam confusos, sem saberem bem quando é a sério e quando é a brincar.
Contas feitas, este ano não perdermos por fruto de circunstâncias que não podíamos mudar. Este ano perdemos porque errámos muito. Perdemos porque não nos preparámos devidamente. Perdemos porque esta direcção não esteve à altura de materializar o que prometeu. E já nem falo da perda do campeonato, porque, sinceramente, há que dar mérito ao Porto por um campeonato magnífico. Doeu-me muito mais a forma negligente como perdemos a Taça de Portugal e como entregámos o título aos maiores rivais no nosso estádio. Estava em jogo a nossa honra. E saímos humilhados e vergados, sem ter sequer comido a relva. Fomos uma equipa borrada de medo.
Alguns poderão dizer: “Sim, perdemos porque o Porto foi melhor, perdemos porque o Porto é melhor, não há que ter vergonha disso.” E eu aceitaria essa tese se essa fosse a mensagem que sai de dentro do clube, se tivessem tomates para nos dizer por exemplo que temos de vender o Fábio Coentrão este ano, e que não temos condições de competir com os de lá de cima. Mas a mensagem que sai é oposta, é a mensagem de um clube que vende mas que não precisaria de vender, é a mensagem de um clube que vai vencer tudo e que tem o céu como limite. Das duas, uma: ou assumem o fracasso ou assumem a demagogia.
O futebol é paixão mas nunca deixará de ser um jogo. Que todas as tristezas da vida fossem estas. Estas atingem-nos mas passam, não são definitivas, apagam-se com a vitória seguinte. E como comecei por dizer, vibraremos em breve com novas aquisições, com um novo entusiasmo, com um sem número de novas possibilidades que se adivinham.
Mas eu queria que LFV não esquecesse, e que percebesse que a certa altura são já demasiadas rasuras, demasiadas emendas e demasiados erros. E quando a borrada é muita, tem o condão de levar com ela a nossa fé e a ilusão.
E isso é o pior que nos pode fazer Sr. Presidente: Roubar-nos a ilusão.
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