Todos sabem a profecia Maia que é vulgarmente confundida com o fim do Mundo, quando na prática o que os Maias quiseram dizer é que o Inverno de 2012 iria marcar uma nova era, "it's the end of the world as you know it" já dizia a música dos REM.
O futebol português, como o Mundo e até como a sociedade e a economia em geral, pode estar a chegar perto de um novo paradigma onde, tal como no Mundo e na Economia, temos que saber tomar antecipadamente as medidas necessárias para esse novo paradigma e sabermos se quem conduz os destinos está preparado para fazer o que é necessário para que não seja "the end of the world" mas apenas "as you know it".
Se do lado da sociedade, da economia e do Mundo, se assistem a revoluções socio-políticas, catastrofes naturais, "crashes" financeiros ao sabor desse papão, "os mercados", etc. por outro lado no futebol assistimos ao crescente desencanto dos adeptos com uma modalidade outrora de paixões agora rendida essencialmente a interesses financeiros (dos dirigentes aos próprios jogadores), mas também interesses políticos, jogos de poder e influência que alastra a corrupção a 80% dos campeonatos organizados nas ligas mais mediáticas onde, aparenta, continuar imune a Liga Inglesa - onde nasceu o futebol.
Deixemo-nos de generalidades e de visões globais. Vamos a Portugal e ao SLBenfica. Ninguém tem dúvidas que há nos próximos dois anos alguns paradigmas que podem ditar o tal "Fim do Mundo" para os patrões corruptos deste futebol luso, ou "um Novo Começo" para todos os que ainda alimentam a paixão pelo futebol e querem voltar a ter gosto em ir ao futebol... São esses os Paradigmas 2012:
1. Novos Estatutos na FPF
Peca por tardia a inevitável rendição dos actuais patrões do futebol nacional à necessidade de perderem poder na tomada de decisões em sede de Assembleia Geral da FPF. Na minha opinião impunham-se medidas efectivas por parte do Governo sobre e FPF para a mudança dos estatutos de acordo com o Novo Regime Jurídico das Federações Desportivas (link).
Até agora, liderava a FPF a união entre as Associações de Futebol, que detinham 55% do poder na AG e, por consequência, nos corredores da FPF e no posicionamento de quem lhes interessava para orgãos como o Conselho de Justiça. Entre as Associações, lideravam as que mais clubes tinham nos escalões profissionais. Como todos sabem, o "esquema" em vigor visa exactamente popular nesses escalões o máximo de clubes do Norte para assim conferir ao eixo Porto-Braga-Coimbra-Leiria o máximo de Poder.
Agora tudo muda! O poder das Associações desce para 35%, minoritário portanto, necessitando agora dos restantes 35% atribuidos aos clubes (dos quais 25% para o futebol profissional e 10% para o não profissional) ou dos restantes 30% para árbitros, atletas e treinadores.
O poder dilui-se e a figura do Presidente da FPF ganha mais poder na nomeação, por exemplo, dos orgãos que lideram e gerem a Arbitragem e Disciplina, um dos pilares que garante a execução do que se decide nos bastidores.
Portanto, torna-se absolutamente vital o SLBenfica perceber o que quer fazer em dois domínios:
a) Garantir uma candidatura "anti-Sistema" que tenha como principal preocupação unir os agentes desportivos que lutem pela isenção e verdade desportiva. Isto não implica colocar benfiquistas no poder apenas, mas sim todos aqueles que (não sendo portistas ou indirectamente interessados) pretendam ter uma acção isenta para bem do futebol.
b) Exercer uma acção de vigilância apertada às políticas comercias e de patrocínio que se irão desenvolver na Liga, sobe a responsabilidade do portista Fernando Gomes.
2. Direitos Televisivos
O irmão de Joaquim Oliveira chamou à "obra" que criou em conjunto com este, a Olivedesportos, o FMI do futebol português, alegando que conseguiram criar uma forma de "engessar" todos os clubes, numa teia financeira que garante a Joaquim Oliveira a exclusividade de todos os conteúdos multimédia a troco de significativas injecções de dinheiro anuais, perto de 10M€ entre os grandes.
À boa maneira lusa, as sucessivas gestões amadoras e devastadoras da capacidade dos clubes nacionais, juntamente com a ambição desmesurada de protagonismo por parte dos dirigentes, implicou que os clubes fossem "vendendo os dedos e os aneis" a Joaquim Oliveira, a troco dos milhões adiantados para fazer face a estas políticas egocêntricas dos dirigentes.
Nos grandes, Oliveira é detentor de percentagens das SAD, accionista estratégico das empresas Multimédia (49%) e ainda detém contratos de exclusividade de longa duração para todos os conteúdos multimédia (videos, sites, compras on-line, transmissões televisivas, imagens, etc.).
Este negócio rende-lhe, em média, cerca de 200M€/ano de receita com a revenda destes direitos e publicidade, para um investimento que fica perto dos 50M€/ano + custos de transmissão de alguns jogos, mas que na mesma medida lhe garante um incremento de receitas publicitárias e uma receita ainda de cerca de 18€/assinante da Sporttv (o remanescente é lucro dos operadores) que tem cerca de 600.000 assinantes, ou seja, cerca de 130M€/ano.
Ora, se a TVI pagou 10M€/ano para transmitir 15 jogos dos três grandes, sem que nenhum seja entre os grandes (que são os que têm mais audiência) e se o SLBenfica é, comprovadamente, o clube que mais share de audiência tem nos jogos (aprox. 40%), portanto a TVI paga 10M€/ano para ter um jogo do SLBenfica de três em três semanas, sendo que o share dos demais jogos é cerca de 10% inferior, será justo dizer que o SLBenfica representa cerca de 45% desse valor, ou seja, 4,5M€/ano por cinco jogos. (ver estudo sobre a época passsada).
Numa conta simples, e considerando apenas o cenário de um contrato a dois anos, como tem a TVI, o SLBenfica deveria ter então um contrato de 13,5M€/ano apenas considerando a transmissão de 15 jogos em sinal aberto, o que não acontece porque 2/3 dos jogos do SLBenfica são transmitidos em canal fechado (portanto implica maiores receitas para o detentor dos direitos) e além disso há ainda todo o exclusivo das componentes multimédia (website, etc).
Portanto, como já defendi inúmeras vezes, cabe ao SLBenfica efectuar uma análise em dois domínios:
a) Faz ou não sentido assumir a propriedade dos direitos televisivos, passando a transmitir os jogos na BenficaTV, em parceria com a MEO (ou outra entidade) que tenha competências na angariação de publicidade? Isto pode implicar o estudo de vários modelos de operação, como por exemplo o "pay per view" apenas dos conteúdos dos jogos - 3€/jogo ou 5€ de subscrição mensal - ficando os restantes conteúdos em regime de canal aberto, como hoje.
b) Necessidade de resolução definitiva desta questão em 2012, desenvolvendo todos os esforços para NÃO renovar o respectivo acordo com Joaquim Oliveira, sabendo-se da importância deste no panorama actual de liderança do futebol português. Contudo, dada a mudança de paradigma de poder enunciada anteriormente, admito a renovação com Joaquim Oliveira até um limite de 2015/16, por valores na ordem dos 20/22M€ por ano, excluindo integralmente todas as vertentes que vão além das transmissões dos jogos e respectiva publicidade estática, inclusivamente com um plano de aquisição de todas as posições accionistas deste no Universo SLBenfica.
3. Paradigma UEFA Fair Play Financeiro
A UEFA pretende apertar o controlo orçamental dos clubes introduzindo a lei do "fair play" financeiro, que entra em vigor em 2013-2014, mas cujas regras terão de começar a ser aplicadas pelos clubes já na próxima época. Os clubes não poderão ter despesas superiores às receitas e que, numa fase inicial, apenas podem apresentar prejuízos de 45 milhões de euros em duas ou três temporadas.
Esta é talvez a medida que mais e melhor irá fazer pelo futebol de formação. O segredo para responder a este desafio da UEFA é apostar na formação e prospecção de talentos, onde o SLBenfica tem um trabalho interessante conseguido em Portugal e onde dispomos de excelentes condições e recursos para o tornar cada vez mais produtivo, eficaz e com menor margem de erro.
Ontem dava conta da notícia de implementação do modelo de jogo comum a todas as equipas e escalões do SLBenfica, partido daí para a potenciação e prospecção dos jovens valores e não o contrário. É preciso depois não orientar isto em função do treinador da equipa principal, mas sim o contrário, este ser escolhido em função deste enquadramento.
O passo seguinte é a coragem para a arriscar e "mudança de mentalidades". Hoje em dia se o SLBenfica anunciar David Simão e Nelson Oliveira como reforços para 2011/12 pouco entusiasma os sócios e menos ainda o faz se anunciar Leandro Pimenta ou Yartey, porque pelo menos os primeiros lá se vão destacando no Paços. Os sócios do SLBenfica entusiasmam-se mais facilmente pelo Fernandez que nunca viram jogar, pelo Patric que era o novo Maicon, pelo Shaffer que era melhor que Alvaro Pereira, etc.
É preciso inverter esta mentalidade, porque os sócios e o baixo apoio ou incentivo à aposta na formação é um dos principais factores que leva os dirigentes a irem ao mercado, investirem/gastarem dinheiro em jogadores que tardam em confirmar qualidades que não seriam encontradas em jovens da formação.
É preciso ter a coragem de apostar nos jovens da formação por defeito e essa aposta ser complementada por jogadores de qualidade inquestionável e potencial de valorização financeira. O plantel do SLBenfica a médio prazo deverá ser constituído por uma maioria de jogadores portugueses, com uma parte significativa a sair das equipas de formação. Os restantes 40% do plantel deverão ser jogadores de aposta externa, preferencialmente jovens que se valorizem no SLBenfica e sejam vendidos para mercados com maiores capacidades financeiras.
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Que não haja dúvidas: Se o SLBenfica se adaptar e agir em conformidade com estes três Paradigmas 2012, não só o futebol português será totalmente diferente para melhor, como o SLBenfica voltará, fruto do seu mérito e competência (apenas) a ter uma maior regularidade de conquista de títulos.
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