O que queremos em Portugal? Futebol ou Clubismo?

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الخميس، 3 فبراير 2011

O que queremos em Portugal? Futebol ou Clubismo?


Como alguns sabem vivo no Reino Unido, e ontem decidi convidar uns amigos para beber umas cervejas em minha casa enquanto víamos o Porto-Benfica. Claro que eles estavam bem mais interessados nas cervejas do que no jogo, que viam com a maior indiferença.

E não é nada que já não soubesse depois de viver cinco anos fora do país mas, não pude deixar de registar os seus comentários depreciativos, não em relação ao valor das equipas mas em relação às perdas de tempo, ao número de faltas, aos três penalties simulados por jogadores do Porto, ao teatro de Coentrão e Beluschi quando se rebolaram no chão fingindo-se agredidos... Enfim, bem sei que essa é a cultura do futebol português mas, não é algo que os adeptos do futebol aceitem bem por estes lados.

No futebol ganha-se e perde-se, e aqui normalmente aplaude-se mesmo quando se perde, quando os jogadores dão tudo o que têm e caem com dignidade. Para os britânicos, ver um jogo português é mesmo um sacrilégio, e se eu os convidasse para ver um Benfica X Olhanense, em vez de cerveja tinha de lhes oferecer vodka!

Já aqui o disse em outras ocasiões mas volto a fazê-lo. O futebol é um jogo demasiado simples de compreender e do qual não há assim tanto para dizer ou explicar. O futebol em Inglaterra vive-se em dias de jogo, durante os 90 minutos. Depois acaba, as pessoas seguem as suas vidas até ao jogo seguinte. O que em Portugal alimenta três jornais desportivos diários (em Inglaterra não há nenhum), seis ou sete programas de debate televisivo semanal (em Inglaterra não há nenhum), fora os forums e essa treta toda, o que alimenta tudo isso não é futebol, é clubismo, que é algo completamente diferente.

Não quero discutir aqui arbitragens mas, por exemplo os meus amigos ficaram boquiabertos com a expulsão de Coentrão no jogo de ontem. whhaaattt? For thaaatt? - gritou um já com os copos.

Aqui há uns anos fiz duas épocas como árbitro pela Associação de Futebol de Lisboa, não por especial amor à causa mas porque na altura queria entrar na Faculdade de Motricidade Humana, e o curriculum desportivo era um dos requisitos de entrada. Tirei o curso com Jorges Coroados, Vitores Pereiras e outros nomes da praça como mentores, e um dia num outro post poderei contar algumas histórias engraçadas. Conheci árbitros que iam para os jogos bêbados saídos das discotecas, outros que apitavam apenas pelo dinheiro extra ao fim do mês, muitos já conheciam as maroscas todas, recebiam prendas, tinham padrinhos e sabiam como subir na carreira.

Mas no que a mim diz respeito, que lá só andei duas épocas a apitar em campos por vezes em alguns bairros manhosos, sem vedações e cuja segurança era feita apenas por 2 policias às vezes com mais medo que eu, sei o quanto arbitrar um jogo de futebol é difícil, e como é mesmo humanamente impossível estarmos plenamente convictos na hora de ajuizar certas jogadas. Foras-de-jogo então, mesmo um fiscal da linha milimetricamente colocado, como pode ele ter os olhos ao mesmo tempo no penúltimo defesa e no jogador que lhe faz um passe longo do outro meio campo? São fracções de segundo que fazem toda a diferença.

Mas se a profissão de arbitro já é por si dificílima, torna-se ridiculamente impossível de levar a bom porto com tanta teatrilidade que há no futebol português, quer no jogo quer ao longo da semana. Quantas vezes não ouvi alguém dizer que quando os árbitros portugueses apitam lá fora, apitam sempre melhor! Mas alguém se surpreende com isso?

O futebol sempre foi e sempre será um jogo de contacto. Mas no caso do jogo de ontem, alguém poderia tocar em alguém, sem que aquele a quem rasparam nos pelos voasse dois metros e simulasse uma agressão? Ainda ontem há uma jogada em que o Hulk entra na área e o Peixoto quase se afastou para o deixar passar, plenamente convencido que àquela hora já avançada do jogo, bastaria mexer os pés ou soprar no Hulk para, depois de Hulk, Beluschi e James Rodriguez, ser novamente Hulk a tentar cavar a quarta grande penalidade em 90 minutos!

O futebol português é um jogo em que os intervenientes são cientificamente treinados para a batota, para as faltas cirugicas e para serem artistas! Mais uma vez, isto não é futebol, é clubismo!

Recordo-me por exemplo de um jogo do Sporting o ano passado, quando foi às Antas empatar a zero depois de ter encaixado 7 do Bayern de Munique. Disse Paulo Bento no final do jogo: "mostrámos que o jogo de 4a feira foi um acidente." Errado! O que ele não disse foi que o jogo dos 7-0 foi de facto um jogo de futebol, ao contrario do jogo das Antas que foi tudo menos futebol, foi sarrafada do principio ao fim, 50% de tempo útil de jogo e 52 faltas em 90 minutos!

Em Portugal, o futebol faz-me lembrar o boxe e os pugilistas que quando já estão cansados e fartos de levar no lombo se agarram ao adversário para não o deixar bater. E às vezes, a lutar assim e em anti-jogo, aguentam-se até ao fim e ainda ganham aos pontos. Mas depois, quando esses atletas têm de jogar limpo e sem se agarrarem, como acontece com as equipas portuguesas na Europa, percebe-se o quanto são frágeis e como é fácil caírem no primeiro round!

Para concluir, tudo isto é cultural e tradição tuga, é geral, acontence no Porto como no Sporting ou no Benfica. Mas seria bom que os hábitos mudassem para bem do espectáculo. Seria bom que certos artistas da simulação fossem castigados para que não se sentissem tentados e encorajados a repetir as gracinhas na jornada seguinte.

Porque a culpa não é sempre do arbitro, quando em campo correm 22 palhacinhos a tudo dispostos para o ludibriar. Pois de tanto tentarem e com técnicas tão aperfeiçoadas, às vezes ludibriam mesmo.

Claro que o clubismo é importante e é o clubismo que alimenta o fogo mas, o futebol é que me faz ir aos estádios! Em Portugal só de férias mas, em Inglaterra é sempre um prazer ver um jogo mesmo que não seja da minha equipa. Nestes estádios respira-se futebol, e não é só devido à qualidade dos artistas.

Alguém se lembra dos jogadores do Chelsea aplaudir os do United quando estes venceram o título? Seria possível em Portugal?

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