Começar por dizer que sou fã de Jorge Jesus há muito tempo, não é de agora, não é por causa da grande época passada que fez, é já desde os tempos do Estrela da Amadora, até dos tempos em que andava desempregado e aparecia lá por Massamá com alguma frequência à hora do almoço, para comer um Frango da Guia com os amigos.
Só alguém que realmente não perceba nada de bola poderá dizer que ali não está um grande treinador. Vê-se nas pequenas coisas, nos arranjos das suas equipas, na forma como lida com os jogadores, na disciplina que reina nos seus balneários, nas suas movimentações no banco de suplentes de alguém que seguramente não é como muitos pseudo-treinadores que fingem ver nas 4 linhas coisas que mais ninguém vê.
O problema de Jorge Jesus, e isto reportando-me agora àquilo que tem sido a participação do Benfica na presente Liga dos Campeões, é que é um treinador que chegou tarde a um grande clube, e que parece correr agora com urgência atrás do tempo perdido, atrás de um lugar de destaque no futebol mundial, tentando colocar o seu nome no restrito grupo dos "eleitos".
Jorge Jesus pôs o Benfica a jogar futebol como não me lembro de ver há muito tempo pelas bandas da Luz. Mesmo na Europa passeou classe por muitos campos no ano passado, sem esquecer porém que a competição era a Taça Europa, prova de uma segunda divisão europeia, e não exactamente com o nível de uma Liga dos Campeões. Jorge Jesus virou Messias, trouxe confiança e optimismo mas, ao mesmo tempo trouxe também alguma (muita) sobranceria, que por vezes nos sai cara.
Sobranceria no discurso do treinador, que colocou em diversas intervenções por si feitas, a fasquia demasiado alta, fazendo do Benfica aquilo que de facto ainda não é, comparando o Benfica ao Barcelona, e assumindo o Benfica como um candidato sério à conquista da Liga dos Campeões deste ano. Sobranceria no discurso da direcção que, depois de vários anos à deriva, foram salvos, por assim dizer, pela chegada de um treinador que foi capaz, temporariamente pelo menos, de mostrar fogachos da tal equipa maravilha anunciada há muitos anos; e sobranceria nos adeptos que foram atrás disto tudo e que, depois de vinte anos de desilusões, anunciaram em alto e bom som que a sua hora tinha chegado. Acredito sinceramente que toda a gente tem falado de mais, e que era tempo de se perceber que nestas coisas do mundo da bola, o ideal é mesmo falar pouco e deixar os resultados falar por nós.
Mas dito isto, e tendo em conta aquilo que tem sido a participação do Benfica na Liga dos Campeões deste ano, permito-me a tirar duas conclusões:
- a primeira, é que me recuso a alinhar pelo discurso simplista da falta de ambição. Qual é o jogador de futebol que não tem como ambição máxima mostrar-se ao mundo em grande nível numa prova como a Liga dos Campeões?
- a segunda, é que à parte os resultados e o discurso, Jorge Jesus não cometeu grandes pecados, nem em Lyon nem na Alemanha. O Benfica foi uma equipa fiel aos seus princípios, que mostrou superioridade aos seus adversários em muitos momentos do jogo... até as tácticas ruírem frutos de erros individuais infantis dos quais não tem culpa.
O problema de Jorge Jesus no meio disto tudo, será talvez não ter ainda sido capaz de rectificar o seu discurso para tentar travar uma euforia que me parece exagerada num clube que tem quatro (julgo) participações na Liga dos Campeões! E Jorge Jesus tem a sua primeira presença e, eventualmente, parece não ter ainda percebido a competição em que está inserido.
O que penso é que para Jorge Jesus esta parece ser uma cruzada pessoal, e que não lhe basta chegar a Franca, jogar feio e pontuar (como o DarthVader defendia), mas quer chegar a França e jogar à Barcelona, vencer o jogo com classe e provar ao Mundo que o SEU Benfica não só vence, como dá espectáculo e dizima os adversários. Isso, infelizmente tem-nos custado caro, em primeiro lugar porque o Benfica não é o Barcelona, e em segundo porque para jogar à Barcelona é preciso estaleca e experiência de grandes jogos, e o que o Benfica tem revelado é uma constrangedora imaturidade que se revela em erros primários e num número ridículo de passes falhados. Para jogar à Barcelona é preciso, antes de mais, a maturidade que advém das vitórias e do estatuto conquistado, estatuto esse que o Benfica não tem.
Poder-me-ão dizer "pois, e se o Benfica tivesse ganho, se o Kardec marcasse aquele golo, o discurso seria completamente diferente". Evidentemente que sim e, compreendo até o discurso de Jorge Jesus a querer fazer com que os seus jogadores acreditem que são os melhores do mundo. Mourinho fá-lo sempre com enorme sucesso mas, aqui há duas diferenças gritantes:
- a primeira é que Mourinho tem de facto alguns dos melhores do mundo, e o Jorge Jesus não. Jorge Jesus esperava até ter abordado esta competição com outras armas que nunca chegaram;
- a segunda, é que as equipas do Mourinho são, para além de equipas capazes de dominar jogos contra grandes equipas, são também as melhores do mundo na capacidade de sofrimento. E este Benfica não sabe sofrer.
O problema deste Benfica é que os jogadores já perceberam que o Benfica sem Di Maria nem Ramirez não é igual ao Benfica do ano passado. Também já perceberam que a sua ausência colocou a nu insuficiências em outros jogadores, e perceberam já todos também que os reforços tardam em afirmar-se. Ou seja, os jogadores já sentiram que vencer a Liga dos Campeões é uma utopia gigantesca, e tudo isto tem criado um problema mental nos jogadores que depois alguns confundem com falta de ambição. O pior que pode acontecer a uma equipa é não perceber a sua identidade.
Dito isto, continuo evidentemente um apoiante incondicional de Jorge Jesus mas, seria importante um resfriamento no seu discurso (como o GB também já defendeu), a abordagem aos jogos de uma forma mais pragmática e menos artística (especialmente na Europa), porque se calhar, um Benfica mais pragmático, mesmo tendo em conta insuficiências que são evidentes (uma equipa sem extremos e sem profundidade que precisava de um grande Saviola que não tem), teria nesta altura mais um ou dois pontos nesta Liga dos Campeões e a passagem à fase seguinte praticamente assegurada. Nem o Lyon é nenhum papão, nem o Schalke é equipa de topo, o Benfica é que não pode ser tão tenrinho.
De resto, da minha parte, total confiança nestes jogadores e neste treinador, para o presente e para o futuro, quer nas provas nacionais quer na Europa. Nem deixámos de ser uma boa equipa por ter perdido o jogo de ontem, como também nunca fomos os melhores do mundo como às vezes nos pintaram.
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