Sobre Roberto escrevi aqui há umas semanas que, a fase que ele atravessava, aniquilado totalmente pela imprensa, adversários e até por nós benfiquistas, mais do que um teste à sua qualidade era um teste ao seu carácter.
Sejamos claros, as primeiras semanas que Roberto passou na Luz não foram apenas umas semanas infelizes, futebolisticamente falando. Tratou-se sim de um assassinato público, em que o alvo nem sequer era o guarda-redes mas, sim o Benfica como um todo, a sua estrutura técnica e directiva, num objectivo claro de descredibilizar todo o clube, instalar a desconfiança e a dúvida, fazer de Roberto a face visível da contestação que ameaçava subir de tom, resultado de agendas bem mais dúbias do que os objectivos que aparentavam.
Ele foram piadas de capoeiras, foram anúncios de Donis e guarda-redes brasileiros e italianos reformados anunciados todos os dias nos jornais, ele foram piadas de 8 milhões de euros, opiniões científicas de adeptos, dirigentes, jornaleiros e paineleiros, e até nós, benfiquistas, ajudámos à festa. Para alguns, cada frango foi mesmo recebido em apoteose, especialmente por aqueles que lutam há anos desesperadamente para ascender ao poder, e que vêem nestas pequenas "infelicidades" as oportunidades e as portas que se vão abrindo.
E não é, evidentemente, que não tenhamos direito às nossas opiniões, direito a criticar ou a não concordar com certas contratações. O que acho é que há um tempo certo para tudo, e que há alturas em que devemos colocar as nossas opiniões para segundo plano, e que, em vez de colocarmos também nós o nosso pé em cima da cabeça dos náufragos e empurrá-los ainda mais para baixo, o nosso dever como adeptos e sócios de um clube é, antes de mais, dar a mão aos "nossos" para não os deixar morrer.
E é por isso que me agrada profundamente esta recente reabilitação do Roberto, que tem sabido resistir a tamanha pressão, a uma corda ao pescoço com um rochedo na ponta e dois Boeing 767 poisados sobre a sua cabeça, e mostrar já algumas qualidades num ambiente hostil e totalmente adverso, em que o mais fácil seria mesmo continuar a errar ou até desistir. A verdade nua e crua, é que todo este folclore criado em seu redor, teve sempre como objectivo a chacota e o perpetuar dos erros, nunca a sua redenção.
Quero com isto dizer que é o melhor guarda-redes do mundo ou que já vale 8 milhões de euros? Evidentemente que não. Mas, até prova em contrário, admiro sempre gente com esta força de carácter e que acredita na sua causa. As defesas dos últimos jogos, aquele penalty defendido contra o Setúbal, a firmeza com que Roberto segurou aquela bola como se segurasse a vida, e a aconchegou redondinha junto ao peito arrepiou-me, é uma imagem que disse tudo o que lhe ia na alma, de alguém que sabe, como já antes sabia, que este ambiente criado à sua volta era um monstro e uma luta desigual que tinha de vencer sozinho.
Estranhamente, ou talvez não, os “assobiados” da Luz são sempre os mais trabalhadores e os melhores profissionais, em oposição aos ídolos das bancadas que sempre foram os Rogers e os Sabrys, jogadores com mau balneário, egocêntricos e elementos "estranhos" à equipa, que sempre fizeram questão de montar o seu próprio show em detrimento do colectivo.
Falando ainda de assobios, não poderia deixar de lembrar aqui Abel Xavier, provavelmente o jogador mais assobiado por adeptos benfiquistas nos passados trinta anos. O homem simplesmente não podia participar no jogo sem ser vaiado ainda antes de tocar na bola. Este Abel não era um primor de técnica nem craque nenhum mas, este Abel destruímos nós com a nossa intransigência, o mesmo Abel que saiu da Luz pela porta pequena ferido de morte no seu orgulho e na sua honra. Se calhar não teve a forca mental de outros para dar a volta por cima, poder-se-á dizer. Mas esse "coxo" Abel Xavier, convém lembrar, saiu da Luz para jogar ainda em clubes banais como o Everton, PSV, Roma, Liverpool e Galatasaray.
E é por estas e por outras, que normalmente me coloco ao lado dos mais "fracos", dos Robertos, dos Abeis e dos Peixotos, e vejo as suas lutas um pouco como as minhas.
Poderão dizer, há algo de muito romântico neste sentimento. Talvez mas, simplesmente não consigo ficar indiferente, quando vejo alguém lutar tão afincadamente contra a lógica dos números e, heroicamente tentar sobreviver num ambiente minuciosamente preparado para os ver morrer.
Por eles e por nós Benfiquistas, só posso mesmo desejar que sejam felizes.
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