Muito se tem escrito e falado sobre o “mau” do Benfica deste ano, razão pela qual, me apetece hoje escrever sobre o “bom”.
O que me parece é que à volta do Benfica pairam algumas nuvens negras, desânimo, desconfiança e dúvida, a começar nos próprios adeptos, resultado de duas derrotas a abrir o campeonato que imediatamente fizeram soar o sinal de alarme quanto à qualidade ou falta dela existente no actual plantel de futebol.
Eu não sou nem nunca serei uma pessoa de branco ou preto, nem sou um optimista inveterado quando ganho, tal como também não dramatizo demasiado quando perco. Acho que a verdade está sempre algures no meio. Há erros mesmo quando se ganha, e às vezes perde-se mesmo quando se trabalhou bem.
Eu quando olho para o actual plantel do Benfica, penso que, embora muita gente tenha ideia completamente oposta, foi formado a tempo e horas.
Gaitan, Jara e Fábio Faria foram compras antecipadas, seguramente apostas do treinador, claramente um sinal de que em Janeiro deste ano já havia uma ideia clara daquilo que seria o Benfica do ano seguinte. Seguramente também, já aí se previa a saída do Di Maria entrando Gaitan para o seu lugar, e a aposta em Jara para o futuro, e substituto ideal de Saviola, uma das pechas do plantel do ano passado, já que Éder Luis nunca deu conta do recado.
E se as entradas e saídas tivessem ficado por aqui, ninguém se tinha queixado muito, saíria Di Maria (que há muito queria mudar de ares) e um ou outro jogador de segunda linha, chegavam dois jovens internacionais argentinos, e em Janeiro deste ano já tínhamos o plantel do ano seguinte alinhavado.
O problema disto tudo surge com a saída de Ramirez já em fase avançada da pré-época, venda forçada pelos contornos do contrato estabelecido aquando da sua compra, saída essa que, face à lesão de Gaitan no flanco oposto e à lesão de Kardec que obrigou Cardozo e entrar na equipa acabadinho de chegar de férias e, claro, a três derrotas seguidas em jogos a sério e às más prestações de um guarda-redes caríssimo que chegava para valer pontos, lançaram o alarme geral e a ideia de que toda esta época tinha sido mal planeada e ameaçava acabar em desastre total.
E é aqui que eu acho que tem havido algum exagero nas críticas feitas:
- Exagero quando se diz que a época 2010/11 não foi planeada a tempo e horas. Errado, o senão de última hora foi a venda de Ramirez e a sua substituição por Sálvio. Será sálvio o substituto ideal de Ramirez? O tempo o dirá evidentemente mas, para já sou obrigado a dar o benefício da dúvida a quem o escolheu.
- Exagero quando se diz que Gaitan não é substituto de Di Maria só porque é um jogador diferente de Di Maria. As pessoas não colocam sequer a hipótese de Jorge Jesus ter querido um jogador diferente do típico extremo esquerdo de raiz para fazer aquela posição. Pergunto: O Barcelona joga com algum extremo de raiz no onze base? Messi e Iniesta são extremos? O único que tem é Pedro que normalmente começa do banco.
- Exagero quando se colocam a Vieira e a Rui Costa a responsabilidade de todas as fragilidades que muitos vêm no actual plantel. Para o bem ou para o mal, leia-se, para as escolhas mais e menos acertadas, acho que fizeram muito bem em seguir as indicações de um treinador que fez no Benfica aquilo que Jorge Jesus fez no ano passado. Se Jorge Jesus tiver enfiado um barrete ao Benfica com Roberto e for responsável por isso, é também responsável pelos muitos milhões de euros em que valorizou um plantel que há um ano não valia nem metade do que hoje vale.
- Exagero quando não se lê uma única palavra de apreço pelo esforço que foi feito por esta direcção ao não delapidar um plantel valioso, nomeadamente à maneira como se soube resistir à tentação de facturar muitos milhões com jogadores como Coentrão, Cardozo e David Luiz. É justo que também se aponte a esta direcção aquilo que tem feito de bom.
- Exagero quando se arrasa Filipe Vieira por ter vendido Di Maria por uma verba entre os 25 e os 36 milhões de euros num ano em que o jogador mais caro do mercado foi David vila por 40 milhões. Mascherano custou 22; o segundo mais caro do Real Madrid foi Ozil por 16 milhões; e em Inglaterra por exemplo, excluindo o Manchester City por razões óbvias, a contratação mais cara foi… Ramirez por 22 milhões para o Chelsea. O Liverpool gastou 12 em Meireles e o Manchester United gastou 10 num defesa do Fulham e 6 num avançado mexicano. O Arsenal gastou 12 num avançado do Bordéus. Contratações milionárias, nem vê-las.
Isto para dizer o quê? Que está tudo bem e não houve erros? De maneira nenhuma! Erros há-os seguramente, erros de avaliação de jogadores (em todos os clubes e não apenas no Benfica), erros na falta de aproveitamento das camadas jovens, erro na falta de transparência de alguns negócios que deixam os adeptos confusos quanto à existência ou não de outros interesses por trás. Há seguramente muita coisa que se eu mandasse faria diferente.
Mas há um erro maior nesta altura – opinião pessoal evidentemente – o de sermos nós próprios a fomentar o descrédito dentro do nosso clube quando os “inimigos” andam lá fora a rir-se disto tudo, num ano em que acredito que o Benfica tem plantel para justificar optimismo e dar cartas em Portugal e na Europa tal como fez no ano passado.
O mercado está fechado (finalmente, digo eu), finalmente porque acho que passámos os últimos três meses a olhar para aqueles que poderiam chegar em vez de olhar para os que estavam cá dentro. Nos últimos tempos tive várias vezes a sensação de que os “nossos” não eram aqueles que há quatro meses deram a volta a Lisboa num autocarro de caixa aberta. Nos últimos tempos tive várias vezes a sensação de que os “nossos” não eram nossos, eram aqueles que estavam para vir.
E três posts interessantíssimos no dia de hoje:
Defeso 2010/11, por PJSimões; As perguntas que se impõe fazer, por Cativo Vermelho; GB, o Director Desportivo (LOL), por GB
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