Peço já desculpa pelo tópico muito longo, mas temas que têm muito para dizer, não devem ser resumidos sob pena de adulterar-mos a realidade e o que se pode fazer para alterá-la, peço paciência e que leiam tudo até ao fim.
Na nossa sociedade contemporânea pelo menos a maioria de nós preza o que é chamado de regime democrático, onde se combate o racismo, a xenofobia, a corrupção, os interesses instalados. Se aos poucos as nossas lideranças políticas têm vindo a assimilar esses princípios, já as instituições que governam o futebol teimam em seguir princípios feudais onde as lideranças se prolongam e se passam testemunhos de mão em mão sem efectivamente haver eleições para eleger os orgãos directivos, é um regime quase familiar, de compadrios e favorecimentos pessoais, não muito diferentes da nossa FPF.
Defende essa gente a tal "inovação" dos fiscais de baliza, os tais que no ano passado tiveram intervenções (ou não intervenções) desastrosas, não intervindo mesmo tendo uma situação clamorosa a acontecer a frente dos seus olhos... Estes chamados fiscais de baliza nada resolvem e é só um dispersar do problema, sem fugir dele.
Esta instituição defende que as "ajudas tecnológicas" tirariam a emoção ao futebol...Então quer dizer que neste momento o futebol é um jogo altamente emotivo e competitivo? Diria que pelas razões erradas. Em vez de promover o fair-play, a competição saudável, a boa vizinhança, a FIFA ao rejeitar essas "ajudas tecnológicas" aceita como sendo a emoção do futebol, as guerras de bairro, as suspeições, a corrupção e adulteração de decisões e resultados, o racismo e a xenofobia que tanto defendem em estandartes e publicidades inócuos...
O problema das "ajudas tecnológicas" é que seriam uma forte machadada em tudo o que não é escrutinado de maneira adequada, que é levado simplesmente como algo inerente ao desporto, que faz parte da nossa natureza...
Este é um dos pontos em que a FIFA esta a deixar a essência original do futebol morrer aos poucos...ficando o simples clubismo e guerrilhas de bairro que exacerbam a tal "emoção do futebol".
Lembram-se do futebol sem empresários? Como seria? Eu pela idade que tenho já não me recordo de futebol sem eles, embora muitos de vós ainda possam ser do tempo em que não se falava nesta profissão no mundo futebolístico. Eu posso não me lembrar, mas consigo ver a praga que este oportunistas de mercado são para o futebol!
O que interessa a um empresário de futebol? O mesmo que um empresário do mercado petrolífero, do mercado imobiliário...LUCRO! E o que não é o mercado futebolístico senão algo extremamente apetecível como os outros mercados que mencionei para que saltimbancos sem lei possam ferrar as suas garras e tirar a sua fatia dos proveitos?
Os jogadores de futebol regra geral não são conhecidos pela sua inteligência, muitas vezes até têm dificuldade em coordenar duas frases seguidas, eles são reconhecidos pelo jogo de pés, não o jogo com as palavras. E os jogadores desde sempre dependeram dos clubes de futebol, que lhes davam importância por serem as entidades que os valorizavam, levando-os a ganhar valores muito elevados em relação a média dos salários de pessoas normais.
Mas num mundo onde o dinheiro é tudo, e onde melhor que ganhar 1000, é ganhar 1500, os empresários aliciaram e convenceram os jogadores que os clubes não eram pessoas de bem e que tiravam maiores proveitos deles do que depois retribuíam aos atletas. Então aos poucos os jogadores começaram a ser todos representados por um empresário.
Como o objectivo do empresário é pegar num activo e valoriza-lo de maneira a receber uma comissão por essa valorização, o custo dos jogadores tem vindo a disparar a partir de então. Tal como os passivos dos clubes, cada vez mais sufocados no seu esforço de contratarem jogadores que lhes permitam ter competitividade e traquejo para ganhar troféus.
Os empresários encontraram uma fonte de fortuna e os jogadores viram os seus salarios engordarem para valores quase surreais.
Os clubes cada vez lutam mais com despesas incomportáveis que nenhum lucro consegue fazer frente, empenhamentos com instituições bancárias, que estando ligados a um juro, é algo sempre a crescer, uma bola de neve que crescerá até esmagar os clubes, essas instituições de que o futebol depende.
Basta ver o último mundial de futebol e a convocatória de Carlos Queirós para a competição e vemos o poder que os empresários exercem nas instituições, neste caso a Gestifute de Jorge Mendes. Os interesses de empresários já estão acima de clubes e federações...
Sem clubes, não há empresários, não há jogadores, não há FIFA, não há futebol...
Onde estão as equipas dos anos 60? Um Benfica com 11 portugueses, um AC Milan so com italianos? Um jogo de futebol português contra futebol italiano e que ganhe o melhor? Será que isso é tão arcaico que é impensável para uma sociedade avançada como a nossa? Como chegamos ao ponto em que há equipas com 11 estrangeiros e ver uma Alemanha com um Gana, não se consegue quase discernir quem em quem em termos de futebol jogado? Tornou-se o futebol um producto normalizado? Em que tudo é igual, mesmas tácticas, mesmas ideologias, mesmas técnicas?
Até uma competição como a Liga dos Campeões foi desenhada para só um grupo restrito de uma duzia de clubes a ganhar... Perdeu-se grande parte da imprevisibilidade... porque um Manchester United da mais audiências que um Estrela Vermelha de Belgrado...Nesse aspecto a criação de um campeonato europeu seria o culminar dessa corrente de pensamento...o abandonar de milhares de clubes a uma morte lenta e dolorosa...
O futebol hoje sofre de uma perda de identidade indescritível. E principalmente o futebol de formação, perdeu totalmente a sua função original... Que seria fornecer o clube de jogadores jovens com a dita "mística", alma, promover um ecletismo que faria a instituição entrar nos recantos mais obscuros da sociedade para os iluminar.
A vinda dos empresários e a Lei Bosman acabou com isso. Para os empresários a formação só serve para criar novos diamantes para serem transferidos o mais rapidamente possível, porque jovens desse clube continuarem nesse clube não dão comissões, e isso é mau para o negócio. A Lei Bosman terminou com as limitações de estrangeiros comunitários no clube, e sabendo nós bem, como essa lei como as comunitárias são ambíguas e têm vazios legais nesse aspecto, os empresários aproveitaram ao máximo esta mina.
Os clubes começaram timidamente a comprar jogadores estrangeiros, mas cada vez mais se viam portugueses em Itália, brasileiros em Portugal, franceses em Inglaterra...foi a mistura de estilos, a homogeneização de técnicas.
Hoje é normal ver o Benfica com jovens argentinos, espanhois, brasileiros...mas será que os adeptos se sentem a vontade com isso? Será que esses jogadores têm a "mistica" nas suas veias? Será que nos seus filhos eles sentem a mesma emoção que eles tinham quando eram crianças e sonhavam em ir jogar para o Benfica?.............................
E a FIFA observa impávida e serena a este sangramento lento, ao estado moribundo de instituições centenárias, muito mais antigas que a própria FIFA, a morte de muito outras, que caiem no esquecimento, subjugadas simplesmente a este futebol que virou mais do que tudo um negócio, onde a emoção é só outra via de lucro, onde os adeptos são números, onde a violência é uma inevitabilidade, onde a identidade e a "mística" foram depostas por não darem comissões.
Este estado de coisas a se manter este "status quo" levará a morte lenta do futebol tal como o conhecemos, ou melhor, como nos recordamos dele.
A FIFA compactua com isto porque é um sistema que a beneficia, em que os empresários que já mandam mais que clubes e que federações, exercem as suas influências, e tal como na FPF com Madaíl e seus comparsas, é só dizer que sim a troco de muitas notas e holofotes da fama.
Em que "ajudas tecnológicas" são uma pedra no sapato pois são más para o negócio, pois rebatem o clubismo ferrenho que cada vez mais grassa, a tal "emoção".
Se a FIFA quer realmente fazer jus ao seu lema, então terá além de promover todas as "ajudas tecnológicas" para eliminar hipóteses de árbitros corruptíveis, de impor regras ao mercado futebolístico, aos empresários principalmente. De impor limites de estrangeiros, principalmente extra-comunitários. De proteger os jovens das camadas de formação dos clubes de origem, para não serem transferidos por ávidos empresários para um clube que não conhecem ainda na adolescência.
Se a FIFA realmente quer um futebol com EMOÇÃO, então deve promover a verdade desportiva, a identidade e a"mística", as regras de mercado.
O Benfica, fazendo parte deste sistema global, sofre com todos estes males, não podendo mudar tudo por si só, tem o poder de abrir uma excepção, em vez de seguir ao sabor dos ventos do facilitismo.
Que promova os jovens da formação, lhes dê prioridade sobre estrangeiros de qualidade duvidosa, que trate os sócios e adeptos como sendo o seu sangue, que lhe dá vida, que defenda mais activamente a verdade desportiva contra a podridão que enegrece o futebol português e mundial...não peço muito, só o que fez do meu clube uma instituição de bem e de valores.
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