No seguimento do tópico 40M€ e lá vai a carneirada, olhando para os mercados internacionais e para a exposição que o futebol tem Portugal, um facto é óbvio: O SLBenfica recebe (talvez todos recebem) muito menos do que deveriam receber por estes direitos.
Vamos começar pelo início. O que está em causa? São 15 jogos do clube na Liga Sagres no seu estádio, assim como a primeira linha de publicidade estática em torno do relvado. Contudo, face ao estado miserável das contas dos clubes no final da década de 90, os clubes entregaram também todo o restante conteúdo multimédia (como os sites oficiais) ao intermediário Olivedesportos.
Durante anos, este comprava os direitos aos clubes e ia a procura de retornar isso com a venda de publicidade estática e com a venda integral de alguns jogos às estações de televisão, na altura a RTP. Com o aparecimento da Sporttv, passaram a ser transmitidos todos os jogos dos três grandes, assim como uma média de dois a três jogos por jornada os clubes do topo da tabela. Depois, há ainda a revenda dos conteúdos a operadores internacionais que retransmitiam os jogos ou resumos.
No total, Oliveira deverá receber por este "bolo" mais de 200M€/ano, pagando apenas cerca de 50M€ e não acrescentando qualquer valor ao processo, dado que a inovação e a diferenciação é algo que há muitos anos está vedada às transmissões de futebol em Portugal, tipicamente a cargo da Sporttv, salvo um jogo por semana.
Posto isto, é óbvio que há dois factores fundamentais a ter em conta no processo: 1. A falta de concorrência proactiva e com capital reinante nesta vertente; 2. A posição dominante de Oliveira junto dos centros de decisão do futebol português;
Em tempos, João Vale e Azevedo, talvez na única medida perto de acertada que teve enquanto se entretinha a roubar o SLBenfica, decidiu rescindir unilateralmente o contrato com a Olivedesportos e optou por vender os respectivos direitos do SLBenfica, em contratos anuais com a SIC. O advogado alegava, e parece que a justiça se preparava para lhe dar razão, que os contratos eram ilegais e que como tal deveriam ser considerados nulos.
Bom, nem tanto ao mar, nem tanto à terra! Ainda assim, essa nulidade contratual é algo que estranhamente parece estar a ser juridicamente pouco explorada, quando o SLBenfica conseguiu ganhar em primeira instância, salvo erro, e se preparava para ganhar no recurso para o Tribunal da Relação.
Por outro lado, a duração dos contratos carece de um quadro de revisão também. Contratos a mais de cinco (no máximo seis) anos de duração serão necessariamente penalizadores para os clubes mais dinâmicos e com efectivas estratégias empresariais, como é o caso dos três grandes.
Contudo, é preciso lembrar com quem estamos a negociar e não acreditar apenas na "história da carochinha" que a PT vem cheia de dinheiro e resolve tudo. Joaquim Oliveira montou ao longo dos anos uma teia de domínio de vários factores, constituindo para os clubes mais cada vez mais pobres uma tábua de salvação.
Assim, na minha opinião, se há entidade que deveria "romper" relacionalmente com Joaquim Oliveira, o verdadeiro patrão do futebol nacional, é o SLBenfica. Somos, talvez, a única instituição com capacidade para desafiar o império criado por Oliveira, pois a marca e o "conteúdo Benfica" vale também bastante mais que os demais concorrentes.
Infelizmente, ao longo do tempo, em vez de incentivarmos a esse rompimento, temos dado passos no sentido de uma coabitação pacífica com Joaquim Oliveira, que é inclusivamente accionista da Benfica Multimédia, tendo a seu cargo todos os conteúdos multimédia do SLBenfica. Experimentem, por exemplo, fazer o pagamento do cativo através do site e verão a que entidade estão a pagar: Sportinvest Multimédia, pois claro.
Ou seja, isto de andarmos a ler notícias no Jornal I e no Record de que as coisas são da forma A ou B, pouco relevo têm quando depois fazemos juras de amizade e preferência a alguém que tem no SLBenfica o interesse exclusivamente de se aproveitar financeiramente e não contribuir activamente para o crescimento do Clube na proporção que nos é devida.
O GB já escreveu várias vezes sobre este assunto. A meu ver, a solução passaria por um concurso público internacional que colocasse em pé de igualdade todos os potenciais interessados e que permitisse analisar diferentes vectores de criação de valor para o SLBenfica - e não falo apenas de factores financeiros, mas também de inovação nas transmissões, utilização de novas tecnologias, interacção com os espectadores, etc.
Há oferta internacional e nacional. Só em Portugal, desde a Ongoing até à PT/MEO, as opções estão aí. Podem até não conseguir vencer na recta final a Olivedesportos, mas seguramente que obrigariam a "subir a fasquia" qualitativa e a "subir a parada" financeira.
O Joaquim Oliveira tem montada, é preciso não esquecer, uma teia de poder fortíssima que vai desde a banca até à política, passando pelos media nacionais. Ou seja, tem argumentos para "por em sentido" qualquer entidade que não pretenda ver-se exposta na imprensa ou ver movimentações bloqueadas na banca. E porque ele tem isso? Entre outras coisas porque tem na mão, como diz Zeinal, um produto "killer" que é talvez dos poucos ou únicos que captam mais de 50% do mercado nacional e tem aí um meio para dar visibilidade a essa gente toda que o apoia e ajuda.
Depois, há ainda o factor "clube pequeno". Ou seja, os clubes pequenos têm que existir nesta equação, mas em termos de share, tirando quando recebem os grandes, nada representam. Caso o Oliveira perca o SLBenfica, não só fica em maus lençóis, como perde capacidade para ter o que dar a esses pequenos, que assim se constituem também uma força de poder favorável ao Oliveira.
Em conclusão, na minha opinião o que nos afasta do tal Euromilhões que representa uma receita justa de 40M€ ao ano durante 5 anos (200M€ no total) é acima de tudo o facto de não nos desligarmos efectivamente da ligação ao Joaquim Oliveira, permitindo-lhe sentir-se sempre com alguma posição negocial favorável.
O que a justiça dos números revela é que a Benfica Multimédia deveria ficar totalmente imune ao Joaquim Oliveira, ao mesmo tempo que a fasquia dos números se colocaria na ordem dos 40M€.
Contudo, face a todo um conjunto de circunstâncias que tardam em ser estrategicamente definidas e outras que Oliveira trata de garantir, admito que o negócio poderá fazer-se por pouco mais de metade desse valor - 20 a 25M€.
Como mostra a foto, e em bom português, é "cagar no Oliveira" e colocar em PRIMEIRO O BENFICA. Vão ver como ele aparece com o "rabinho entre as pernas" a pedir-nos que evitemos a falência dele. Enquanto não quebrarmos a teia dele, precisaremos tanto dele (porque domina) como ele de nós (porque lhe damos receitas). Se quebrarmos essa teia, e temos poder para isso, será ele a precisar de nós.
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